segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Um Até Breve!

"Marquem bem isso, vocês, orgulhosos homens da ação! Vocês são, no final, nada mais que instrumentos inconscientes dos homens que pensam."   

                                                                  Georg Wilhelm Friedrich Hegel


Agradecemos, uma vez mais, aos que nos ajudaram a construir esta coerente e incansável gestão,

Cale Alvorada

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Quem tem poder


Análise, Brasil de Fato

Posso prescindir do poder do chefe de uma empresa, desde que não trabalhe nela. Mas não posso prescindir de quem detém o poder político.

Frei Betto




Tem poder toda pessoa ou instituição capaz de decidir os rumos de nossas vidas. Isto é poder: é capaz de empregar-nos ou desempregar; aumentar ou reduzir o salário; oferecer ou não melhores sistemas de saúde e educação.



Não me interessa o poder dos marajás da Índia ou dos biliardários árabes. Não influem em minha existência. Sou indiferente ao poder do presidente da França ou do primeiro-ministro da Itália. Porém, toca-me o poder do presidente dos EUA, tamanha a influência econômica, ideológica e militar deste país no planeta. Vale adicionar à lista seu peso no meio ambiente, no avanço da ciência e no aprimoramento da tecnologia.



Poderoso é aquele que me salva ou condena, insere ou exclui, gratifica ou pune.



Posso prescindir do poder do chefe de uma empresa, desde que não trabalhe nela. Mas não posso prescindir de quem detém o poder político. Ainda que ele não tenha sido eleito pelo meu voto. Toda decisão política influi no conjunto da sociedade. Para o bem ou para o mal, depende do ponto de vista de quem é beneficiado ou prejudicado.



Por isso convém estar atento: quem tem nojo de política é governado por quem não tem. E tudo que os maus políticos querem é a maioria da população indiferente ao fato de fazerem na vida pública o que fazem na privada...



Como me relaciono com a pessoa que, próxima a mim, detém poder sobre meu destino? Eis uma questão que, infelizmente, Freud e seus sucessores não aprofundaram tanto como o fizeram os dramaturgos gregos na Antiguidade, Shakespeare e nosso Machado de Assis.



A tendência é o subalterno, quando mais apegado à função que a seu espírito crítico, se infantilizar frente ao superior: ri do que não tem a menor graça, elogia o que não merece consideração, procura adivinhar-lhe gostos e preferências. Trata-se de um jogo típico de criança que se esforça por seduzir o adulto para, em troca, obter carinho e realização de suas aspirações.



Muitos que detêm o poder nutrem seus egos graças à corte de bajuladores. E tendem a não aceitar que o critiquem. Se alguém se atreve a fazer-lhes crítica, há que, primeiro, escolher cuidadosamente as palavras, de modo a não ferir-lhes a sensibilidade, assim como uma agulha é capaz de fazer estourar um balão.



A maioria se cala diante do poderoso, ainda que lhe conheça contradições e defeitos. Raras as pessoas que, em cargos de chefia, ousam repetir a iniciativa de um gerente de empresa que, uma vez ao mês, reservava uma hora para ouvir críticas de seus subordinados. E ainda mantinha uma caixa de correspondência para quem preferisse fazê-lo anonimamente.



Segundo ele, a opinião que temos de nós mesmos e de nosso desempenho quase nunca confere com a de quem conosco convive. Saber ouvir críticas é um ato de humildade e tolerância. Humildade deriva de húmus, terra; humilde não é o bobo e sim quem mantém os pés no chão, sem voos egolátricos nem se deixar atolar na baixa autoestima.



Muitos defeitos poderiam ser corrigidos em instituições e empresas se os funcionários e subalternos tivessem canais para expressar críticas e sugestões. Em que hospital os pacientes avaliam os médicos? Em que escola os alunos dão notas aos professores? Em que igreja os fiéis questionam seus bispos e pastores?



Há pessoas, em especial na esfera da política, que só se sentem bem imantadas pela aura do poder. Quando estão próximas, demitem-se de qualquer consciência crítica e agem ridiculamente como papagaios de pirata, sempre se empenhando para se dependurarem no ombro do poderoso.



Porém, se as circunstâncias as distanciam do poder, sentem-se humilhadas, desprezadas, e deixam-se entupir de mágoas e iras. O poderoso ontem bajulado passa a ser objeto de críticas mordazes. É a síndrome da expulsão do Paraíso...



O melhor antídoto à sedução do poder é a espiritualidade. Não apenas no sentido religioso, mas sobretudo no que concerne ao aprofundamento subjetivo de valores éticos. Quem gosta de si mesmo não precisa mendigar o olhar alheio. Nem sempre prestamos atenção no preceito de Jesus: “Amar o próximo como a si mesmo.” Se não tenho boa autoestima, dificilmente saberei encarar o próximo com benevolência e compaixão.



Muitos caminhos conduzem a essa conquista interior. Para mim, a mais pedagógica é a meditação, esse silencioso exercício de deixar que Deus me habite para que eu possa abrir portas do coração e janelas da mente aos semelhantes e à natureza.







Frei Betto é escritor, autor de “A mosca azul – reflexão sobre o poder” (Rocco), entre outros livros .www.freibetto.org – twitter:@freibetto

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Uma vitória de Pirro?



Robson Sávio, do blog  Conversando Direito


A cidade do Rio de Janeiro viveu, nas três últimas décadas, um grande dilema. Salvo a Zona Sul e outras partes “nobres” da metrópole, a grande maioria dos moradores - aqueles de vivem nas centenas de favelas cariocas - estava dividida. De um lado um estado corrupto, que mantinha estreita conexões entre várias modalidades do crime, como o jogo do bicho, por exemplo - e que, por sua vez, operava de dentro da máquina estatal, corrompendo políticos e outras autoridades -; uma das polícias mais violentas e viciosas das Américas (talvez do mundo!); uma sociedade dividida em o glamour da zona sul e a miséria das favelas. Enquanto isso, de costas para as comunidades carentes, o Estado permitia o adensamento exponencial do tráfico de drogas que ampliou seus domínios, aumentou seu "poder de fogo", corrompeu autoridades, monopolizando, com o tempo, uma extensa rede de “serviços criminosos terceirizados”, concretizados, atualmente, nas milícias.



As comunidades estavam reféns entre o “ruim” e o “péssimo”. O ruim representado pela omissão estatal que sonegava aos cidadãos cariocas a cidadania, permitindo que os moradores das favelas fossem reféns de todos os males do tráfico sem controle. E o péssimo representado pelos traficantes - que num primeiro momento (década de 1980) supriam os serviços públicos deficitários (comprando medicamentos para os doentes, cedendo vales transporte para os necessitados, etc.), e com o passar do tempo começou a cobrar um altíssimo preço (da variava da conivência à participação compulsória nas atividades do tráfico).



A onda de violência associada ao tráfico de drogas começou a transbordar das favelas no final da década de 1990. E chegou a incomodar a “turma da zona sul” - aquelas madames e seus playboyzinhos que sempre consumiram as drogas do morro, mas que não queriam saber dos problemas sociais ocasionados pelo tráfico. E o assunto virou notícia na mídia - que tem entre seus principais consumidores notadamente a classe média.



Desde então os sucessivos governos fluminenses, muitas das vezes apoiados pelo governo federal, fizeram todo o tipo de pirotecnia sem enfrentar verdadeiramente o crime que se espraiou em toda a sociedade local, adentrando perigosamente na máquina do Estado. Muito show midiático e, como todos sabemos, pouquíssimos resultados objetivos. Após os shows, aquelas invasões sem resultados, muitas transmitidas "ao vivo" - como agora (que vitimavam mais os moradores que os criminosos) - tudo voltava ao que era antes... ou seja, ao reino da desordem civilizacional.



Resumindo a cantilena: os criminosos, como fizeram em Sampa, há quatro anos, resolveram, esta semana, colocar as “barbas” pra fora. Enfrentando o Estado de forma descarada, orquestrada e sem medo e colocando a população civil, mais uma vez, em pânico. E, como ocorrera em São Paulo, as ordens para as badernas partiram de dentro das prisões - ou seja, o Estado é tão tacanho que não consegue, sequer, controlar as prisões... Estamos perdidos!



Como todos sabemos, não restava outra alternativa que não o enfrentamento dos bandos de traficantes. O governo não preparou esta ação e só houve união de forças (estadual e nacional) porque frente à barbárie que se abatia dia após dia sobre o Rio outra alternativa não existia. Era o "tudo ou nada"... nas palavras de um policial.



A população aplaude. A mídia incensa. O governador comemora. O Ministro da Justiça se vangloria... Tomara que no final o Estado democrático vença o crime - que a cada dia vai se organizando no Rio e em outras cidades brasileiras (diga-se de passagem).



Mas não tenho a menor dúvida. Se os governantes cariocas (com ou sem apoio federal):



(1) não enfrentarem o problema da corrupção e da violência de suas polícias - esse foi o primeiro passo para as grandes vitórias contra o crime em Nova Iorque e em Bogotá, na Colômbia;

(2) não desarticularem as milícias - que são a nova “cara” do crime no Rio - e hoje têm uma organização comercial estupenda;


e, por fim (3) não oferecerem saídas para os jovens das favelas e tratamento para os dependentes das drogas....

Se isso não for feito, mais uma vez teremos a vitória de Pirro.

Para quem não sabe, após a batalha de Ásculo contra os romanos, o rei de Épiro, Pirro, teria dado uma declaração que se tornou famosa. Ao felicitar seus generais depois de verificar as enormes baixas sofridas por seu exército, ele teria dito que com mais uma vitória daquelas estaria acabado. Desde então, a expressão "vitória de Pirro" é usada para expressar uma conquista cujo esforço tenha sido penoso demais. Uma vitória com ares de derrota.



E você: qual a sua opinião sobre as ações policiais no Rio de Janeiro e as soluções apresentadas pelo governo fluminense para debelar o crime na Cidade Maravilhosa?

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Uma visão panorâmica sobre a conjuntura mundial (novembro/2010)








Igor Fuser *



Adital -

1. REUNIAO DOS PAISES DO G-20



Esta reunião ocorre num momento de crise internacional muito grave, que a mídia não está cobrindo com o destaque necessário.



A reunião do G-20, na Coréia do Sul, se realiza no meio de um impasse monumental: os países mais importantes do mundo estão divididos diante da crise econômica global.



O que é o G-20? Grupo criado para enfrentar a crise em 2008... Verdadeiro comitê central dos assuntos do mundo, deixando a ONU numa função totalmente decorativa.



O objetivo do G-20 é articular a reação dos governos, que passariam a enfrentar a crise de uma forma coordenada... Se cada governo pensasse apenas no seu próprio interesse, a situação ficaria muito pior.



EUA jogaram essa ideia no lixo: 10 dias antes, lançaram uma emissão de dinheiro gigantesca, mais de 600 bilhões de dólares, supostamente a fim de incentivar a recuperação da economia americana, que está em recessão há dois anos.



Esse dinheiro na prática vai para os mercados internacionais, a especulação, desvalorizando o dólar em relação a todas as outras moedas, que aumentam o seu valor.



Com isso, a economia de todos os outros países se enfraquece: suas exportações ficam mais caras, principalmente para o mercado dos EUA, enquanto seus mercados internos ficam cada vez mais expostos à invasão de produtos importados...



Ao mesmo tempo, está em marcha uma invasão econômica dos EUA aos demais países: eles compram títulos da dívida pública do Brasil e de outros países, compram terras, empresas... Os EUA podem fazer isso porque são o único país que pode emitir uma moeda, o dólar, que é aceita internacionalmente.



Os governantes dos demais países estão todos furiosos. Em alguns casos, ameaçam também desvalorizar as suas moedas. Colocam barreiras para a entrada de capital americano. É o caso do Brasil, da Tailândia...



A China está na berlinda... EUA se juntam com a Europa e o Japão pra tentar forçar a China a valorizar a moeda. Se a China fizer isso, não vai mais conseguir exportar tanto. O resultado será a instabilidade interna: os trabalhadores chineses, que até agora foram beneficiados com o crescimento, vão protestar.



Mas mesmo os europeus e japoneses não querem ir muito longe numa briga com os chineses. Os EUA barateando o dólar querem conquistar também os mercados dos países aliados.



O cenário é de uma guerra comercial e cambial - uma luta de todos contra todos na cena econômica mundial... E dentro de cada um dos países desenvolvidos uma luta do governo + capitalistas contra os trabalhadores, tentando jogar nas costas dos setores populares o custo da crise.



2. O que temos é uma situação de um capitalismo desgovernado



Os EUA se mostram totalmente incapazes de exercer a liderança, como já fizeram no passado.



A economia americana está em decadência: a maior dívida externa, o maior déficit comercial. A pergunta que todos se fazem: por quanto tempo ainda vão se manter como a maior potência do planeta?



Os EUA não conseguem mais agir em defesa dos interesses do sistema capitalista no seu conjunto, mas utilizam sua posição como maior economia do mundo - e donos do dólar - para favorecer apenas os interesses dos seus próprios capitalistas, e enfrentar a crise da sua economia interna em prejuízo de todos os outros países do mundo.



O mundo é obrigado a escolher entre se submeter às imposições dos EUA ou mergulhar numa situação de anarquia econômica.



3. Temos assim um momento muito perigoso: o paralelo que se pode fazer é com o pós crise de 1929. Todos tentaram aumentar suas exportações, formar saldos positivos no comércio. Como isso é impossível, as economias nacionais continuaram estagnadas e o comércio entrou em colapso. Isso alimentou as tensões políticas que culminaram na II Guerra Mundial

Freixo: segurança pública reforça criminalização da pobreza

Policial visto durante tiroteio com traficantes no Rio de Janeiro

Marcela Rocha

                       Terra Maganize




Em entrevista a Terra Magazine, o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol-RJ), conhecido pelo combate às milícias, afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não fez "a escolha política" de ir "à fonte do financiamento do tráfico". Segundo ele, a ação da polícia carioca nas favelas reforça "a criminalização da pobreza" e não enfrenta o crime organizado. Ele será enfrentado, diz Freixo, "onde há o lucro (com a ilegalidade), que não é na favela".



- A favela é a mão de obra barata. É a barbárie - diz o deputado, elencando a Baia da Guanabara e o Porto como locais onde há o tráfico de armas e onde lucra o crime organizado.



Crítico da política de segurança pública do Rio, Freixo afirma que as reclamações dos moradores dos morros questionam a presença da polícia, comparando à ausência de políticas sociais, postos de saúde e escolas. Para o deputado, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) visam atender as necessidades de uma cidade que será Olímpica em 2016:



- As UPPs representam um projeto de cidade e não de segurança pública. O mapa das UPPs é muito revelador: é o corredor da Zona Sul, os arredores do Maracanã, a zona portuária e Jacarepaguá, região de grande investimento imobiliário. Então, são áreas de muito interesses para o investidor privado. (...) A retomada é militar para permitir um projeto de cidade, que é a cidade Olímpica de 2016. Para toda cidade Olímpica tem cidades não-Olímpicas ao redor - afirma.



Freixo foi presidente da CPI das Milícias, que investiga a ligação de parlamentares com grupos paramilitares. Por conta disto, o deputado chegou a ser ameaçado de morte. Leia abaixo a íntegra da entrevista:



Terra Magazine - O senhor é conhecido pelo combate às milícias. Em alguma medida, esses ataques podem interferir no comportamento delas?

Marcelo Freixo - Esses ataques não tem nada a ver com milícias, são reações às UPPs, que não atingiram as milícias em nada. Não há nenhuma área atingida pelas milícias que tenham sido ocupadas pelas UPPs. Pelo contrário.

Sobre esses ataques...

Esses ataques são do varejo da droga, que é muito menos organizado do que se imagina. Representam o crime da lógica da barbárie, da violência. Não são pessoas que têm referência com o crime organizado, porque a organização não faz parte de sua cultura de vida. É a barbárie pela barbárie. Então, os ataques não vêm do crime organizado, que deve ser enfrentado de uma outra forma.



Que forma?

Se quiser enfrentar o crime organizado tem que ir para a Baia da Guanabara que é por onde as armas entram. Aí, sim. Ali tem a operação financeira do crime organizado para o tráfico de armas. Isso não se enfrenta no Rio de Janeiro.



O senhor afirma que se trataram de atos bárbaros, sem uma organização. Mas esses ataques estavam sendo comandados pelo Comando Vermelho e pelo Amigo dos Amigos.

São facções da barbárie. É o crime organizado dentro das cadeias. São grupos que só são organizados de dentro das cadeias. Muito mais dentro do que fora. O crime organizado é onde tem dinheiro e poder, que não é o caso das favelas, onde fica a pobreza e a violência. A tradicional política de segurança do Rio, perpetuada há 11 anos, enfrenta as favelas com uma ação letal. Em 2007, o mesmo governo (Sérgio) Cabral entrou no Complexo do Alemão, matou 19 e saiu. Como está o Complexo do Alemão hoje? Igual. Esse tipo de ação é muito ineficaz. Se é para enfrentar o crime organizado, tem que ser onde ele lucra, que não é na favela. A favela é a mão de obra barata, e é a barbárie. É preciso ir à fonte do financiamento e aonde passam as armas. Essa é a escolha política que até hoje o governo Lula não fez.



Como o senhor avalia a implementação das UPPs?

As UPPs representam um projeto de cidade e não de segurança pública. O mapa das UPPs é muito revelador: é o corredor da Zona Sul, os arredores do Maracanã, a zona portuária e Jacarepaguá, região de grande investimento imobiliário. Então, são áreas de muito interesses para o investidor privado. O Estado, portanto, retoma - militarmente - este território. A retomada é militar para permitir um projeto de cidade, que é a cidade Olímpica de 2016. Para toda cidade Olímpica tem cidades não-Olímpicas ao redor.



No morro Dona Marta, por exemplo, moradores reclamaram bastante da truculência policial durante a ocupação das UPPs.

Em todas as áreas de UPPs existe muita reclamação, e hoje em dia isso vem aumentando. A maioria das queixas são causadas pela agressividade policial, não necessariamente agressão física, mas pela atitude, ou abuso de autoridade. Outra reclamação recorrente é que só polícia chegou a esses morros.



Como assim?

Só chegou polícia e não investimentos sociais. E é claro que não só de polícia a favela precisa. Uma coisa é enfrentar a barbárie, outra coisa é o fator que mantém aquela favela ali. As pessoas precisam de direitos. Não adianta levar a polícia e não levar a escola, o posto de saúde, o saneamento. Isso vai gerando um desgaste para a própria polícia também.



Dentro desse cenário que o senhor chama de "barbárie", e somando a ele esses ataques recentes, o senhor acredita que fica de ônus ao morador da favela?

Esses momentos reforçam o processo de criminalização da pobreza no Rio, o que é muito perigoso. Hoje, todas as operações policiais no Rio acontecem nas favelas. Todas. Não há nenhuma na Baia da Guanabara, nem no Porto, que é por onde entram as armas e onde funciona - verdadeiramente - o crime organizado. Então, reforça-se esse processo de criminalização das áreas pobres.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A Superuniversidade: entre informações e desinformações

Universidades que integram o projeto do consórcio


Por André Luan Nunes Macedo,
Membro do Conselho Universitário da UFSJ, representante dos estudantes.



A primeira notícia sobre o consórcio universitário, metaforicamente intitulada pela mídia como “superuniversidade” foi publicada em 3 de agosto de 2010, conforme pesquisado no site de buscas www.google.com[1]. O debate sobre a concepção da “superuniversidade” só chegou ao Conselho Universitário da UFSJ (CONSU) em meados de setembro pelo professor e atual reitor, Helvécio Luis Reis. Além disso, até hoje somente uma reunião de trabalho foi feita pelos conselheiros com pauta única para discutir o projeto, e ainda nenhum seminário foi sugerido pela atual administração. De acordo com o raciocínio do professor, tal projeto era uma “proposta autônoma” dos reitores idealizadores da proposta. No texto que nosso reitor buscou explicar os bastidores da construção, o primeiro encontro para formular propostas teria sido em meados de julho[2], já com a presença do Ministro Fernando Haddad. Ao apresentar a data sobre o encontro, havia uma dúvida a ser esclarecida. Para chegar ao encontro da formulação, por uma questão lógica os reitores já pensavam sobre o assunto em suas universidades e necessariamente já tinham discutido algo a respeito em seus fóruns, provavelmente na ANDIFES. Então, questionamos: em que data ocorreu a primeira reunião dos sete professores que compõem o consórcio (UNIFEI, UNIFAL, UFSJ, UFOP, UFLA, UFJF e UFV)? Segundo o professor, a primeira reunião para construir os pilares para a formulação de idéias em torno do projeto ocorrera no início do ano, especificamente em fevereiro de 2010.


A partir dessas informações, quando nos encontramos em uma reunião com os DCE’s que participariam da superuniversidade, em outubro de 2010, buscamos encontrar os pontos de contato nas informações divulgadas em cada instituição para os estudantes e, a partir desse movimento, encontramos algumas contradições em relação às informações fornecidas. Todos os outros DCE’s disseram que o Consórcio havia partido de uma proposta advinda do Ministério da Educação para as universidades de Minas Gerais, na qual a UFMG, por exemplo, se recusou a participar. Nesse sentido, detectamos uma possível incongruência em relação ao que foi dito pelo professor Helvécio, quando nos apresentou um projeto não idealizado pelo governo federal. Tal relação muito nos preocupa diante da conjuntura universitária atual, onde a política institucional vê excessivamente com bons olhos todas as propostas advindas do atual governo.



O primeiro questionamento quanto ao Consórcio parte dessa relação e do possível ferimento da autonomia da comunidade acadêmica em traçar os seus projetos através de uma discussão interna permanente, algo que não tem acontecido durante o debate sobre esse projeto. Mais uma vez, por uma questão lógica, os conselhos superiores em nada participaram da discussão, pois tal projeto já vem ao longo do ano sendo construído pelas lideranças administrativas das sete universidades. Por quê os reitores não quiseram compartilhar suas propostas com os Conselhos superiores? Por quê não houve um interesse em buscar novas idéias da base? Quando não se faz um movimento dialógico entre o representante executivo e os conselhos, não poderia-se dizer que tal medida é um ferimento a uma discussão mais democrática? Será que essa medida vinda de “cima para baixo”, tão elogiada pelo professor Helvécio[3] é saudável para a dinâmica de reflexão da universidade? E, para nós, diante dos fatos, surge um questionamento que deve ser destacado: se já havia uma discussão sendo feita anteriormente, por quê a mídia só publicou as primeiras notícias em agosto?



A partir da última questão levantada, gostaríamos de compreender a relação entre o papel da mídia na divulgação dos acontecimentos e sua relação com os reitores das sete universidades.



A questão que causou mais resistência entre os sete reitores foi a divulgação das informações na grande imprensa. O nome superuniversidade causou grande insatisfação por parte deles, na qual a nomenclatura “Consórcio” seria mais apropriada.Também se mostraram indignados com informações de que haveria um “superreitor” na Superuniversidade, algo que distorce a conotação dada para a “parceria” entre esses representantes, que estariam dispostos a promover um maior “dialogo social”, nas palavras do presidente da comissão de construção do Consórcio, Luis Cláudio Costa, reitor da UFV. Nesse sentido, haveria uma dicotomia entre as informações repassadas pela mídia e a “versão oficial” dos fatos divulgada pelos reitores.



No entanto, ao realizarmos a pesquisa na internet, vemos que os artigos publicados por diversos jornais, como Estado de Minas, Último segundo, etc. possuem declarações de reitores que até esclarecem, dentro do espaço da mídia, as nomenclaturas criadas pela imprensa para divulgar as informações sobre o Consórcio. Ironicamente, encontramos, dentro do site da UFSJ, na parte específica do Núcleo de Educação à Distância (NEAD) uma notícia do Estado de Minas[4] que continha uma declaração do reitor da UFV, esclarecendo não só a nomenclatura, mas explicitando os objetivos do Consórcio, que foram igualmente reproduzidos nos documentos oficiais entregues por eles próprios[5].



Dessa forma, não detectamos dicotomia alguma, e sim um auxílio dos veículos de informação para noticiar a opinião pública brasileira a respeito do projeto. A grande mídia auxiliou os próprios reitores a reproduzirem suas idéias, exercendo a função de formadora de opinião, independente da sua discussão ideológica na sociedade. A mídia exerceria, portanto, a função de construtora da realidade e de formação de consenso sobre o projeto. Não se encontra nenhuma discussão crítica na internet[6] sobre a concepção do projeto. Ou seja, o único discurso reproduzido é o discurso dos reitores, algo que atrofia uma discussão mais democrática. Portanto, se deve haver uma crítica quanto o papel da mídia ela é contrária à análise negacionista dos reitores sobre o seu papel, uma vez que só as autoridades puderam relatar sobre o processo, enquanto que os conselheiros, o movimento estudantil e a comunidade acadêmica, agentes sociais extremamente preocupados com a pauta, assumiram um papel secundário na divulgação sobre o consórcio até então, que desde julho vem trazendo à tona grandes debates no cenário universitário brasileiro e internacional[7].



Negar a mídia como uma dimensão analítica para a construção de uma opinião, como foi feito por parte dos reitores, é ir numa contramão à reflexão que a universidade pública deve fazer sobre a grande imprensa. A mídia tem um grande poder de mediação na sociedade, e certamente é necessário entender a reprodução de suas informações para saber como será o comportamento da sociedade quanto à construção do projeto. E, como vimos, quando exercitamos essa reflexão, percebemos uma falsa dicotomia entre o que foi divulgado na mídia e nos documentos entregues pelos reitores.



Não há divulgação oficial dos fatos. A análise sobre o consórcio deve ser feita pelo prisma metodológico da totalidade social, entendendo todos os atores afetados pelas decisões dos reitores, seja na comunidade acadêmica, o governo federal, a justiça, etc.



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[1] Realizamos essa pesquisa no dia 16 de novembro de 2010, às 01:49 AM. Procuramos na Web notícias a respeito do tema com a palavra-chave “superuniversidade”.



[2] “Decidimos levar essa ideia ao Ministro da Educação, Fernando Haddad, em reunião que aconteceu no dia 19/7, noticiada amplamente pela imprensa brasileira”. Trecho retirado do texto “Consórcio das universidades federais sul-sudeste de Minas Gerais” do professor Helvécio Luis Reis.



[3] Nas palavras do professor Helvécio, “O Reitor representa legitimamente a Universidade, eleito por sua comunidade, fala em nome dela. Não me parece uma carta branca. Usando de prerrogativa legitimada pela comunidade universitária nas eleições, não se pode desprezar o papel de indutor do reitor e sua equipe. Também deve-se respeitar e incentivar a capacidade criativa da comunidade universitária, que legitimamente propõe a todo momento seus projetos e desenvolve iniciativas. É desta conjunção dialética de esforços que a universidade constrói-se, modela-se e remodela-se permanentemente. Portanto, compreendo como legítima minha participação nas discussões e na assinatura do protocolo de intenção para a criação do consórcio. Isso não fere nenhum princípio!”. Ibidem Uma pena que nem metade da proposta dialética foi contemplada por nosso reitor...



[4] http://www.nead.ufsj.edu.br/site/index.php/institucional/noticias/74-superuniversidade-avanca.



[5] Assim foi divulgado no site www.universia.com.br . Com o artigo intitulado “Consórcio cria superuniversidade mineira :Projeto envolve sete federais e sairá do papel em 2011”, já percebemos uma consumação dos fatos por parte da imprensa, que favorece ideologicamente a consolidação do projeto, quando diz que em 2011 ele “sairá do papel”. Além disso, o site ainda permite que haja um posicionamento do reitor de Alfenas, estabelecendo algumas ratificações: "Não é um projeto de fusão das instituições, mas sim de interação. A iniciativa visa fortalecer o Ensino, a pesquisa, a extensão e a relação com o Governo Federal a partir da complementaridade", explica Paulo Márcio de Faria e Silva, reitor da Unifal. Segundo ele, a chamada superuniversidade não terá CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) único. "Haverá um colégio de gestores, cada um deles com seus respectivos conselhos universitários, o que preservará a autonomia das envolvidas", elucida.

[6] Quando procuramos no Google as palavras-chaves “superuniversidade crítica”, não há nenhuma referência a algum contraponto em relação ao consórcio. A proposta dos reitores é muito bem elogiada e em nada se difere daquilo que estão dispostos a realizarem. Ironicamente, mais uma vez, o que aparece através de início nessa pesquisa é uma notícia hospedada no blog do jornalista Luis Nassif, que apresenta também os objetivos do Consórcio.



[7] Segundo a divulgação

Correção: Apresentação do Consórcio de Universidades Mineiras

Atenção para correção do horário divulgado.

Os representantes hoje em Gestão do Centro Acadêmico Livre de Economia , assim como alguns centros acadêmicos de outros cursos, foram convidados para participar da exposição do projeto da superuniversidade com a presença do Prof. Reitor Helvécio Luiz Reis. Naturalmente, acreditamos que não se trata de um interesse que a representação resolva. Convocamos todos os estudantes, de todos os cursos, em especial os de economia, para estarem presentes nesse dia dada a relevância do espaço:


Data: 23/11 (terça-feira)

Horário: 15h00

Local: Anfiteatro Campus Santo Antônio

sábado, 20 de novembro de 2010

O futuro da classe média






Editorial, Le Monde
por Silvio Caccia Bava




Passado o momento das eleições, em que a imagem de um “Brasil que deu certo” foi apregoada aos quatro ventos, é preciso reconhecer que, mesmo com a maré boa de crescimento econômico e com as políticas sociais do governo federal que permitiram uma redução substantiva do número de pobres e miseráveis, estamos muito longe de superar nossos problemas estruturais, especialmente a desigualdade social, que continua sendo das maiores do mundo.



A rigor, os analistas que convidamos para colaborar com esta edição, identificam como classe média apenas o segmento que em 2009 correspondia a 7,7% da população, a chamada “alta classe média”, como aponta Waldir Quadros; os demais são trabalhadores qualificados que melhoraram seu padrão de consumo; são também os trabalhadores menos qualificados que tiveram acesso a uma renda maior em razão dos programas sociais.



A melhoria do poder aquisitivo e das condições de vida se deu de maneira mais significativa entre os mais pobres, na base da pirâmide social. Ao lado disso, o crescimento econômico e a abertura de novos empregos formais geraram oportunidades de ascensão social para que alguns setores menos pobres possam aspirar a se tornar classe média. As estimativas são de que cerca de 1,7 milhão de pessoas possa vir a se beneficiar deste momento e, neste movimento de ascensão social, venha a participar desta “alta classe média”. Ainda que seja expressiva esta quantidade de pessoas, ela não permite projetar, num futuro próximo, que o Brasil se torne um país de classe média.



O aumento do consumo é uma realidade que pode se verificar em muitos setores e que interessa primeiramente aos beneficiários diretos, mas também a todos que apostam na consolidação do mercado interno. Mas este aumento do consumo não reflete somente os ganhos de renda, ele também se deve a um crescente endividamento pessoal, que já chega hoje em torno de ¼ dos ganhos mensais, conforme dados do Banco Central1. Em comparações com a capacidade de endividamento pessoal em outros países, até que estes valores são moderados, mas não podemos esquecer o fator da desigualdade e da baixa renda da grande maioria no Brasil, que não estão presentes nos países onde o endividamento é maior.



Se tudo correr bem e o Brasil continuar crescendo a taxas importantes nos próximos anos, não haverá problema, este endividamento é parte da própria estratégia de ampliação de mercado e beneficia mais a uns que a outros, mas beneficia a todos. Se, no entanto, nossa economia sofrer o impacto da desaceleração dos países industrializados (que consomem algo como 86% da riqueza produzida no mundo) e da sobrevalorização do real (que estimula uma política de importações e ameaça os produtores nacionais), as coisas podem tomar outro rumo e os endividamentos podem se tornar um problema.



Os segmentos de crédito que tem mais crescido são o da compra de automóveis e de imóveis. E, nestes casos, estamos falando de financiamentos de médio e longo prazo. Se considerarmos que os períodos de crescimento se alternam com períodos de recessão nos ciclos do modo capitalista de produção, se considerarmos que as razões da crise financeira de 2007-2008 não foram debeladas e os global players das finanças continuam animando o cassino financeiro internacional, ainda mais poderosos que antes, então são necessárias políticas que defendam o mercado interno e a produção nacional, para garantir empregos e proteção contra as crises que virão.



Uma parte importante dos benefícios que asseguram uma melhor qualidade de vida depende dos serviços e equipamentos públicos. São eles que garantem a universalidade de certos direitos, como educação, saúde, saneamento, transporte público, moradia. E é o Estado que tem a responsabilidade de prover estes serviços e equipamentos. Há aqui uma grande frente de investimentos em razão mesmo do déficit social acumulado. Só para dar um exemplo, quase a metade das residências brasileiras não tem esgoto.



Ser classe média não significa somente possuir um pouco mais de dinheiro para gastar, significa apropriar-se de conhecimentos e desenvolver potencialidades que habilitam o cidadão a entrar em outro universo simbólico e de valores, como discute Jessé Souza em seu artigo. Para isso, o investimento em educação, e educação de qualidade, é fundamental. O acesso aos bens culturais e até sua autorrepresentação frente à sociedade, sua auto-estima, contam muito. No fundo, se tornar classe média significa abandonar ou superar aquele lugar subalterno que a educação produzida pelas elites definiu como o lugar dos trabalhadores, das maiorias. As eleições criaram condições para se pensar em um novo modelo de desenvolvimento. E o futuro da classe média depende disso.


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Silvio Caccia Bava é editor de Le Monde Diplomatique Brasil e coordenador geral do Instituto Pólis.

Apresentação do Consórcio entre Universidades, ou Superuniversidade

Os representantes hoje em Gestão do Centro Acadêmico Livre de Economia , assim como alguns centros acadêmicos de outros cursos, foram convidados para participar da exposição do projeto da superuniversidade. Naturalmente, acreditamos que não se trata de um interesse que a representação resolva. Convocamos todos os estudantes, de todos os cursos, em especial os de economia, para estarem presentes nesse dia dada a relevância do espaço:

Data: 23/11 (terça-feira)

Horário: 14h00

Local: Anfiteatro Campus Santo Antônio

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Filosofia

Noel Rosa: aos escravos do velho mundo.

Composição: Noel Rosa


O mundo me condena
E ninguém tem pena
Falando sempre mal do meu nome
Deixando de saber
Se eu vou morrer de sede
Ou se vou morrer de fome.



Mas a filosofia
Hoje me auxilia
A viver indiferente assim.
Nesta prontidão sem fim
Vou fingindo que sou rico
Para ninguém zombar de mim.



Não me incomodo
Que você me diga
Que a sociedade
É minha inimiga.
[Hoje] cantando neste mundo
Vivo escravo do meu samba
Muito embora vagabundo.



Quanto a você
Da aristocracia
Que tem dinheiro
Mas não compra alegria
Há de viver eternamente
Sendo escravo desta gente
Que cultiva hipocrisia