quinta-feira, 15 de julho de 2010

Onze mulheres



No dia da morte de Eliza Samúdio - jovem que teve um breve relacionamento com o jogador de futebol Bruno - onze mulheres morreram vítima de violência de parceiros, namorados, maridos ou equivalente. Eliza foi estrangulada, esquartejada e enterrada em local ainda não sabido.


Os detalhes da morte das outras dez mulheres não são conhecidos porque seus parceiros não eram figuras públicas. Mas nem por isso os crimes dos quais elas foram vítimas são menos importantes.


Por isto estas onze vidas nos levam a uma só conclusão: onde está a igualdade entre os homens e as mulheres? Sinto que ficou perdida em algum discurso belo do ano de 1968 quando tal tema ganhou relevância mundial.


Sim as mulheres ampliaram seu poder na nossa sociedade. Chamo de poder a relação entre as pessoas e não algo que alguém detém.


Elas hoje decidem sua vida profissional, são consumidoras com notável poder de compra (item fundamental no mundo do Capital), e colocam em suas camas quem desejam, sem se deixar levar por pressões exteriores. Avanços notáveis.


Elas hoje sofrem preconceitos no trabalho, por vezes fazem do consumo uma fuga, são agredidas por seus companheiros, sem que a sociedade articule soluções de fato.


Temos uma nova e muito consistente legislação sobre o tema. Uma Lei que leva o nome de uma guerreira, Maria da Penha. Mulher que por pouco não entrou para as estatísticas como vítima fatal de um marido furioso e descontrolado. Mulher que carrega, pelo resto dos seus dias, as marcas do machismo tropical.


Mas é pouco, muito pouco. A verdadeira mudança ainda não aconteceu.


As mulheres no Brasil vivem – ainda – como cidadãs de segunda categoria. Têm menores salários, menor participação política e, na maioria das mentes masculinas, servem para algumas tarefas menos importantes. No trânsito, na escola, na família e no trabalho elas ainda são vistas como alguém, verdadeiramente, menos importante.


As heroínas que habitam nosso país lutam batalhas inglórias e muitas vezes pagam com a própria vida a coragem que têm de ser MULHER.


Mesmo assim a revolução inacabada em busca de isonomia plena nas relações entre homens e mulheres não pode ser esquecida.


A luta diária de cada mulher é um épico que tem que ser vivido sem intervalos. O machismo é forte e se recria a cada dia. Como já cantado pelo poeta: “o macho adulto branco, sempre no comando” permanece como realidade intocável no nosso cotidiano.


O espaço para a expansão do “mundo feminino” está todo aí, na política, nas universidades, nas grandes corporações, nas ONGs, na mídia e, antes de mais nada, em cada casa de nosso vasto território.


Um basta às atrocidades é fundamental. A caminhada é longa. O caminho tortuoso. Mas se as conquistas não podem ser desprezadas, o trabalho no porvir deve ser mais do que transpiração.


A grande transformação feminina ainda estar por acontecer: mudar, definitivamente, a consciência dos homens!

Romilson Madeira, jornalista e publicitário.
Mestre em Ciências da Comunicação pela USP - Universidade de São Paulo.

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