terça-feira, 21 de setembro de 2010
Brasil melhora indicadores sociais, mas de forma lenta; educação é desafio
- O Estado de S.Paulo
Nos últimos dez anos, o Brasil melhorou seus indicadores sociais, porém, lentamente. E os desafios são grandes. Segundo a Síntese de Indicadores Sociais, divulgada ontem pelo IBGE, a educação ainda é área crucial. Praticamente todas as crianças de 6 a 14 anos frequentam a escola, mas a média de anos de estudo é baixa: 5,8 anos. A situação dos adolescentes é mais delicada. Embora o acesso ao ensino médio tenha aumentado 55,7% na década, metade dos jovens entre 15 e 17 não conseguiu chegar a esse nível de escolaridade. "O crescimento econômico exige maiores índices de educação e de qualificação dos jovens", diz Ana Lúcia Saboia, coordenadora da pesquisa.
No grupo de 18 a 24 anos, mais da metade não chegou à universidade. E, entre os que conseguiram completar o ensino médio, mais de um terço parou de estudar.
A expectativa de vida ao nascer manteve tendência de crescimento, chegando a 73,1 anos em 2009, ante 70 em 1999. E a taxa de mortalidade infantil caiu de 31,7 para 22,5 por mil nascidos vivos na década. Em 2009, um em cada cinco domicílios tinha, simultaneamente, energia elétrica, telefone fixo, internet, computador, geladeira, TV em cores e máquina de lavar (em 2004, eram 12%).
Mais negros e pardos chegam à faculdade
Em 10 anos, porcentual dobrou nesses dois grupos, mas índice dos brancos é o triplo
A proporção de brasileiros com ensino superior completo que se declaram negros ou pardos dobrou em dez anos, mas o patamar era tão baixo em 1999 que, apesar do aumento, os contingentes dos dois grupos ainda representam um terço do porcentual de brancos graduados.
Dados da Síntese de Indicadores Sociais, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, em 2009, apenas 4,7% dos negros e 5,3% dos pardos com 25 anos ou mais tinham curso superior - ante 15% dos brancos.
Dez anos antes, o porcentual era de 2,3% para cada um dos dois primeiros grupos e de 9,8% para brancos. "Obviamente é positivo o aumento, com a ressalva de que o ponto de partida dos negros e pardos era muito baixo", diz o pesquisador do IBGE Leonardo Athias. Ele lembra que, em 1999, a situação dos pretos e pardos com grau universitário era semelhante à da população negra adulta na África do Sul durante o fim do apartheid.
Estudo do professor da Universidade de Brasília (UnB) José Jorge de Carvalho estima que 45% dos alunos beneficiados pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) eram pretos ou pardos, lembra Leonardo, citando esse como o principal fator para o aumento do número de graduados nos dois grupos.
"Além do ProUni, políticas de transferência de renda podem ter contribuído. E também as cotas, mas nesse caso a participação é muito pequena", acrescenta. Os dados indicam que para os três grupos o aumento foi maior na segunda metade da década: em 2004, os porcentuais eram de 11,4% para brancos, 3% para pretos e 3,2% para pardos.
O coordenador da ONG Educafro, frei David Santos, comemorou o resultado, mas disse que esperava uma participação maior de pretos e pardos. "Estamos conseguindo mexer para cima com os dígitos do IBGE, mas ainda é muito pequena a mudança", disse ele, citando o trabalho voluntário realizado pela Educafro em 2 mil pré-vestibulares comunitários.
Santos concorda com a análise de que o maior efeito se deve ao ProUni, que oferece bolsas em instituições particulares. "A exclusão era muito radical. Nos últimos 5 anos colocamos mais negros em universidades que nos últimos 500."
Tendência. A distribuição do rendimento familiar per capita das pessoas com 10 anos ou mais mostra que, no grupo dos 10% mais pobres, 8% eram pretos e 62,9% eram pardos em 1999. Dez anos depois, essas proporções subiram para 9,4% e 64,8%. Quanto ao analfabetismo, tanto negros como pardos, com 13% cada um, ainda têm mais que o dobro da incidência entre os brancos, de 5,9%.
A tendência para os próximos anos é de que os números melhorem, dizem os pesquisadores. "Isso porque temos um quadro grande de universidades públicas com ações afirmativas e os candidatos às eleições presidenciais no topo das pesquisas afirmam que vão manter o ProUni", explica Paulo Vinícius da Silva, pesquisador da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Valter Roberto Silvério, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), destaca a mobilização social como outro fator que implicou no crescimento. "A conscientização social, que vem com os cursinhos para negros e alunos carentes, é um exemplo disso", explica. Para ele, os números significam um avanço, mas ainda há muito a se fazer. "Esses alunos normalmente estão em graduações de menor prestígio. Precisamos diagnosticar as áreas em que eles estão se formando."
Para a bolsista Zilá Ferreira, de 30 anos, que cursa o último ano de Direito em uma faculdade particular de São Paulo, chegar ao ensino superior foi uma vitória. "Percebi que o fato de eu estudar empolgou familiares e vizinhos", conta ela. "Mas, sem a bolsa, acho que dificilmente eu conseguiria chegar até aqui, porque os vestibulares das grandes faculdades exigem cursinhos caros." / COLABOROU MARIANA MANDELLI
Tempo de estudo dos jovens passou de 5 para 5,8 anos
MÁRCIA VIEIRA - O Estado de S.Paulo
Nos últimos dez anos, o País progrediu em educação, mas o avanço foi tímido. A média de anos de estudo das crianças de 14 anos está em 5,8 anos, longe dos 8 anos necessários para completar o ensino fundamental. Em 1999, a média era de cinco anos de estudo nesta faixa.
"Não avançamos nem um ano completo. Se tivéssemos chegado à taxa acima de seis seria um avanço considerável. O dado mostra que o ingresso na escola é tardio", diz Ana Lúcia Sabóia, gerente de coordenação de População e Indicadores Sociais.
O desafio ainda é o ensino médio. Subiu o número de jovens de 15 a 17 anos na escola (85,2%), mas só metade está no nível adequado à idade.
Anos de estudo interferem na idade de ser mãe
- O Estado de S.Paulo
Entre as mulheres com menos de sete anos de estudo, o padrão de fecundidade chega a 37% no grupo das que têm de 20 a 24 anos. Já para aquelas com oito anos ou mais de estudo, a concentração no mesmo grupo de idade era de 25% em 2009. Por isso, a idade média com que as mulheres têm filho é de 25,2 anos entre as que têm menos de sete anos de estudo, e de 27,8 anos para aquelas que estudaram mais de oito anos - diferença de 2,6 anos.
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