terça-feira, 28 de setembro de 2010

Cuba fará até o impossível pela sobrevivência da espécie humana


• Discurso proferido pelo ministro das Relações Exteriores da República de Cuba, Bruno Rodríguez Parrilla, na Reunião Plenária de Alto Nível da AGNU sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Nova Iorque, 21 de setembro de 2010.

Do Granma Internacional


Sr. Presidente:



Em Cuba, as metas previstas na Declaração do Milênio foram praticamente cumpridas, e nalguns casos, superadas. O nosso compromisso ultrapassa as fronteiras do país e permite contribuir para o desenvolvimento social de outras nações do Terceiro Mundo.



Tudo isso é resultado de uma Revolução, que tem como prioridade o bem-estar da população num ambiente de equidade e justiça social. É fruto da sociedade que construímos baseada na solidariedade. É, além do mais, uma conquista atingida, apesar do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelo governo dos Estados Unidos ao povo cubano, durante meio século.



Sr. Presidente:



Animam-nos e alegram-nos os elevados índices atingidos pela Revolução Bolivariana na Venezuela, graças a profundas políticas sociais aplicadas pelo presidente Chávez, apesar dos planos para desestabilizar essa nação irmã que luta e avança. Sentimos também profunda satisfação pelos resultados ótimos da Bolívia, Nicarágua e Equador a partir do compromisso e ação de seus governos.



Os estados-membros da Caricom tiveram também avanços. Os níveis de cooperação e integração solidários na ALBA foram fatores positivos neste sentido. O governo do presidente Lula, no Brasil, teve também resultados tangíveis em matéria social que merecem reconhecimento.



No entanto, estes avanços não dependeram da ajuda internacional dos países desenvolvidos, que é quase inexistente, nem de mudanças positivas na ordem econômica global, que continua sendo injusta e espoliativa demais, a favor dos países ricos.



Eis os fatos: o intercâmbio desigual se incrementou; a assistência oficial ao desenvolvimento contraiu-se em termos reais; a transferência de tecnologia continua sendo muito limitada e altamente condicionada; os mercados das economias mais avançadas permanecem restringidos para as exportações dos países pobres; a dívida externa foi já paga várias vezes, mas multiplica-se, e a desregulamentação e corrupção financeira nos países desenvolvidos provocou uma crise global com consequências fundamentalmente negativas para as economias subdesenvolvidas.



Como consequência, é vergonhoso reconhecer que o número de pessoas que vivem na extrema pobreza aumentou para uns 36 milhões entre 1990 e 2005. O número de pessoas que padece fome em nível mundial cresceu de 842 milhões no período 1990-1992, para a cifra recorde de 1,02 bilhão em 2009, enquanto 2 bilhões de pessoas sofrem a carência de alimentos. Na África subsaariana e em parte da Ásia, a pobreza e a fome mantêm níveis tais, que tornam muito difícil sua redução.



Caberia perguntar-se então: a qual cooperação internacional nos estamos referindo quando nem é remotamente atingido 0,7 do PIB dos países desenvolvidos como Assistência Oficial para o Desenvolvimento, enquanto esses mesmos países são os responsáveis pelo gasto militar mundial, que atinge a cifra assustadora de US$1,4 trilhões, o que representa 2,4% do PIB mundial?



De quais objetivos de desenvolvimento estamos falando quando, diante da ausência de decisão política dos países desenvolvidos, nem sequer é possível chegar a compromissos substanciais para a redução das emissões de gases de efeito "estufa", que põem em risco o equilíbrio climático do planeta e constituem a ameaça mais transcendental à sobrevivência mesma de nossa espécie?



Por acaso pode se ignorar o agravamento da crise alimentar e da água em condições de explosão demográfica mundial?



Como falar de desenvolvimento e rever se as modestas metas do ano 2000 foram cumpridas sem lembrar que na Cúpula do Milênio assumimos também um compromisso a favor da paz? Que esperança podemos ter para cumprir tais objetivos no ano 2015 se, como advertiu Fidel Castro, existem maiores referências à possibilidade de uma agressão militar contra o Irã, que, se acontecer, provocará a morte de milhões de pessoas, afetará suas vidas e agravará a fome e a pobreza no planeta?



Que aconteceu com os compromissos sobre o desarmamento nuclear e completo, além da manipulação para reduzi-lo à dimensão da não-proliferação? Qual o raciocínio que aponta para a conservação e permanente desenvolvimento de 25 mil ogivas nucleares com capacidade para multiplicar a destruição de Hiroshima e Nagasaki em 440 mil vezes?



Quais seriam as consequências de um conflito nuclear, inclusive local ou regional, para a vida no planeta?



A não solução dos problemas mais sérios do desenvolvimento e dos sofrimentos de bilhões de pessoas que vivem sob a pobreza e o subdesenvolvimento afetará também, como já está acontecendo, as sociedades industrializadas, onde os desempregados crescem e políticas migratórias selvagens se espalham. Atingirá todos, quer seja através dos fluxos migratórios incontroláveis, por meio das doenças e das epidemias como consequência dos conflitos gerados pela pobreza e fome, ou como resultado de acontecimentos hoje imprevisíveis.



As Nações Unidas vão trair sua razão de ser, se não tomarem consciência destas realidades e agirem agora.



Temos certeza de que para a espécie humana sobreviver terá de criar uma nova ordem econômica, e política internacional, baseada nos princípios de solidariedade, justiça social, equidade e respeito aos direitos dos povos e de cada ser humano. Ainda é possível fazê-lo juntando vontades.



Para isso, Cuba fará até o impossível.



Muito obrigado.

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